terça-feira, 14 de julho de 2020

SCHOPENHAUER, Arthur. 38 estratégias para vencer qualquer debate. Camila Werner [trad.]. Faro Editorial.


- “ [...]a verdade objetiva de uma argumentação e sua aceitação pelo oponente e pelo ouvinte são coisas diferentes. (A lógica tem a ver com o conteúdo da argumentação e a dialética tem a ver com o convencimento dos demais.)” (16)
A base de toda dialética
- Uma tese pode ser refutada de duas formas: atacando a própria ou atacando quem a profere. Ela pode ser contestada de forma direta (é errada) ou indireta (pode estar errada).
- Pode-se concordar com uma premissa exposta e compará-la à outra (verdadeira ou falsa) e utilizar o resultado para refutar a tese inicial.
- “ [...]em cada disputa ou discussão sobre qualquer assunto devemos concordar em uma coisa; e com isso, como princípio, devemos estar dispostos a julgar o assunto em questão. Não podemos discutir com quem nega princípios” (25).
ESTRATÉGIA 1: Generalize as afirmações do seu oponente
- “CONSISTE EM LEVAR a afirmação do oponente além de sua fronteira natural, tomá-la e interpretá-la da maneira mais ampla e generalista possível e exagerá-la; ou pelo contrário, toma-la no sentido mais restrito possível, fechá-la nos menores limites possíveis, porque quanto mais geral se torna uma afirmação, mais ataques ela pode receber. A defesa precisa focar na afirmação exata dos puncti ou status controversiae.” (27)
ESTRATÉGIA 2: Homonímia — Mude os significados das palavras-chave do oponente
- Usar palavras parecidas com funções diferentes  ou fora do contexto para depois refutar a tese apresentada.
ESTRATÉGIA 3: Confunda a argumentação
- “OUTRA ESTRATÉGIA é interpretar a afirmação estabelecida de maneira relativa, κατα τι, como se tivesse sido feita de maneira geral e absoluta, ἁπλως, ou pelo menos em um sentido completamente diferente, e então refutá-la pelo sentido que o falante não quis. O exemplo de Aristóteles é o seguinte: o mouro é negro, entretanto os dentes são brancos; assim ele é negro e não negro ao mesmo tempo. Esse é um exemplo inventado, que ninguém levaria a sério: peguemos então um da experiência real.” (31)
- Basicamente é lançar uma interpretação que não tem nada a ver com o desenvolvimento e a conclusão real.
ESTRATÉGIA 4: Prepare o caminho, mas oculte a conclusão
- Basicamente é não “dar spoiler” da conclusão, para que dessa forma a pessoa não vá se preparando para refutá-la.
ESTRATÉGIA 5: Use as premissas do seu oponente contra ele
- Basicamente jogue uma mentira no mentiroso, ou jogue uma mentira mesmo que ele tenha dito a verdade.
ESTRATÉGIA 6: Mude as palavras do oponente para confundi-lo
- Semelhante a Estratégia 3.
ESTRATÉGIA 7: Faça o oponente concordar de forma indireta
- “A ideia é fazer muitas perguntas amplas de uma vez para esconder o que se quer que o oponente admita e, além disso, apresentar rapidamente o argumento resultante de suas admissões; assim, quem é lento para compreender não consegue acompanhar com exatidão e deixa passar os possíveis erros ou falhas na demonstração.” (36)
ESTRATÉGIA 8: Desestabilize o oponente
- “AO PROVOCAR RAIVA o oponente sai fora de seu equilíbrio e racionalidade para julgar corretamente e perceber a própria vantagem. É possível fazê-lo ficar com raiva por meio de repetidas injustiças, de algum tipo de truque e pela insolência.” (37)
ESTRATÉGIA 9: Disfarce seu objetivo final
- Semelhante a 4.
ESTRATÉGIA 10: Use a psicologia da negação
- “Q UANDO SE PERCEBE que o oponente nega de maneira proposital (e infantil) as afirmações cuja aprovação seria usada para a nossa frase, deve-se perguntar o oposto da oposição utilizada, como se estivéssemos ansiosos por sua aprovação; ou deve-se pelo menos apresentar as duas para escolha, para que ele então não perceba qual frase queremos que seja aprovada.” (39)
ESTRATÉGIA 11 Tome um conceito geral para o caso particular
- O título é auto-explicativo. Também podemos utilizar de forma inversa: usar de uma exceção para justificar a regra.
ESTRATÉGIA 12: Uso sutil dos vocábulos — renomeie as mesmas palavras
- A estratégia é usar termos positivos ou negativos como forma de deixar logo de cara o oponente encurralado.
ESTRATÉGIA 13: Apresente uma segunda opção inaceitável
- Nesta também o título é auto-explicativo.
ESTRATÉGIA 14: Acuando os tímidos
- Seria “dar uma conclusão” ao que o oponente alega. Se ele for tímido ou burro ele tenderá a aceitar.
ESTRATÉGIA 15: Utilize paradoxos — para situações difíceis
- Seria dizer uma “meia-verdade” e ver no que dá.
ESTRATÉGIA 16: Desqualifique o argumento do outro
- É indicado apontar incoerências, mesmo que ridículas, na fala do outro.
ESTRATÉGIA 17: Faço uso da dupla interpretação
- Quando for confrontado, pegue um pequeno detalhe da afirmação do oponente para contrapor o ponto de vista.
ESTRATÉGIA 18: Mude o curso; interrompa antes da perda certa.
- Essa é muito boa. SE você sentir a derrota, encontre uma brecha para mudar de assunto ou puxe outras pessoas para a discussão. Esta última é um pouco arriscada.
ESTRATÉGIA 19: Desfoque; depois encontre uma brecha
- Essa reforça outras: dê respostas bastante genéricas se sua argumentação está em baixa.
ESTRATÉGIA 20: Não arrisque num jogo ganho
- Se a pessoa já engoliu o seu argumento, não fique voltando nele.
ESTRATÉGIA 21: Use as mesmas armas
- Se o oponente baixou o nível, vá junto com ele.
ESTRATÉGIA 22: Reduza a força do argumento principal
- Também semelhante a outras estratégias: despreze o principal e foque em detalhes.
ESTRATÉGIA 23: Provoque o oponente
- Cuidado com exageros, pois eles podem abrir a guarda para o oponente.
ESTRATÉGIA 24: Torne a alegação do outro inconsistente
- Autoexplicativo.
ESTRATÉGIA 25: Use a exceção para destruir a tese
- Redundante.
ESTRATÉGIA 26: Reforce um aspecto no oponente; depois destrua o seu valor.
- Seria um “assopra e bate”, ou seja, elogie parte do argumento antes de ataca-lo.
ESTRATÉGIA 27: Deixe o seu oponente desequilibrado
- Se sentir que o oponente ficou bravo ou desestabilizado em algum ponto, reforce-o para força-lo ao erro.
ESTRATÉGIA 28: Ganhe a simpatia da audiência e ridicularize o adversário
- Esta é muito útil quando a plateia é formada pelo “cidadão médio”. O oponente faz uma afirmação muito bem embasada, porém difícil de entender. Então ela é desmontada com uma piada ou frase de impacto, tornando difícil trazer de volta o público para o seu lado.
ESTRATÉGIA 29: Não se importe em fugir do assunto se estiver a ponto de perder
- Se a coisa está feia, não tenha medo de pular fora do assunto, mas leve o oponente consigo.
ESTRATÉGIA 30: Aposte em credenciais e acue a todos
- “Esfregue” títulos na cara do oponente. Caso não tenha supostamente cite quem tenha.
- “[...] é raro um homem que ensine uma disciplina a conheça bem, pois se fosse um profundo estudioso não teria tempo para ensinar.” (62)
- “Os leigos têm um respeito peculiar por um floreio em grego ou em latim.” (62)
- “ [...]a maioria das pessoas não está com o livro por perto e também não saberia como lidar com ele se o tivesse.” (62)
- “Preconceitos em geral também são utilizados como autoridade. A maioria das pessoas pensa como Aristóteles ἁ ̔ μεν πολλοις δοκει ταυτα γε εινειφαμεν [o que parece muito certo, dizemos que está certo]. Sim, não existe ideia, por mais absurda que seja, que as pessoas não tomem como suas com tanta facilidade e tão logo se convençam de que tal coisa é adotada de maneira geral. O exemplo lhes influencia o pensamento e as ações. O exemplo lhes influencia o pensamento e as ações. São ovelhas que seguem o pastor aonde ele for: para elas é mais fácil morrer do que pensar.” (63)
- “A universalidade de uma ideia, para falar a verdade, não prova nada, nem mesmo é motivo de probabilidade de sua validade. Aqueles que defendem isso devem assumir que 1. A distância no tempo priva qualquer universalidade de sua força demonstrativa; se fosse o contrário, todos os velhos erros que uma vez foram tomados universalmente como verdadeiros seriam lembrados. Por exemplo, o sistema ptolomaico precisaria ser restabelecido, ou o catolicismo em todos os países protestantes; 2. Que a distância espacial tem o mesmo efeito, senão a universalidade respectiva de uma opinião entre os seguidores do budismo, do cristianismo e do islamismo os poriam em apuros. (Segundo Bentham, Tactique des assemblées législatives, vol. II, p. 76.)” (63)
- “Em resumo, poucos conseguem pensar, mas todos querem ter opiniões — o que resta a não ser pegá-las prontas dos outros em vez de formar as suas próprias?” (64)
ESTRATÉGIA 31: Complique o discurso de seu oponente
- Estratégia boa. Se a plateia estiver do seu lado, você pode também ser um falso humilde. Por exemplo, finja que não entendeu o assunto se saindo com: “você realmente é uma pessoa muito inteligente para que eu discuta com você”.
ESTRATÉGIA 32: “Cole” um sentido ruim na alegação do outro
- A ideia aqui é destruir o que o outro propõe por meio de alguma interpretação maldosa ou mesmo mentira sobre o que ele defende, como por exemplo o material anti-homofobia que Bolsonaro transformou em “kit-gay”.
ESTRATÉGIA 33: Invalide a teoria pela prática
- Autoexplicativo.
ESTRATÉGIA 34: Encontre e explore o ponto fraco
- Quando a pessoa não responde ou responde de forma indireta ela mostrou um ponto fraco que deve ser atacado.
ESTRATÉGIA 35: Mostre ao seu oponente que está lutando contra os próprios interesses
- Esta é bastante complicada de colocar em prática, mas quando se consegue “é caixa!”.
ESTRATÉGIA 36: Confunda e assuste o oponente com palavras complicadas
- Essa tá na moda atualmente quando qualquer idiota acha que pode dar opinião sobre tudo.
ESTRATÉGIA 37: Destrua a tese boa pela prova frágil
- Observe alguma fragilidade do argumento e foque o ataque nela.
38 ÚLTIMA ESTRATÉGIA: Como último recurso, parta para o ataque pessoal.
- É o momento de apelar quando mais nada funcionou para atacar o oponente. Parta para o lado pessoal, agressão mesmo.



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