A
economia americana nos anos 1920
Os Estados Unidos havia
sido o fiel da balança em prol de Inglaterra, França e aliados na I Guerra
Mundial. Com isso tinha ser tornado a maior potência mundial. Mesmo assim a
opção naquele momento foi o isolacionismo. Após o fim da guerra o país tinha se
transformado no maior credor do mundo, e essa tendência só se acentuaria no
decorrer da década.
Internamente os anos 1920
foram de vigorosa expansão econômica. A renda per capta saltou de US$ 660,00
para US$ 857,00 entre 1921 e 1929[1].
Nesse mesmo período a frota de automóveis havia subido de 8 para 23 milhões e o
consumo de fogões, geladeiras e rádios tinham aumentado substancialmente. “Essa
foi a primeira grande expansão econômica da história que mostrou as feições das
futuras sociedades ocidentais; seu ímpeto e sua direção foram dados pelo
mercado de consumo de massa”[2].
Houve também uma
expansão do acesso ao crédito, que acabou irrigando o mercado de ações. O
desemprego era baixo, em torno de 5%. Esse foi um período de defesa
incontestável do liberalismo econômico.
Nesse período, apesar
do baixo desemprego e do aumento da renda e do consumo, viu se um considerável
aumento da concentração de renda. As desigualdades entre as regiões também se
acentuaram. Enquanto no extremo oeste a renda per capta era de US$ 921,00 no
sul era de US$ 365,00. Além disso, 1/3 das riquezas estavam concentradas nas
mãos de 5% da população.
O país se fechava para
os imigrantes, e suas exportações superavam em muito as importações. Com isso
vários países tinham dependiam de empréstimos americanos para sanearem suas
contas, como a Áustria. Havia também a Alemanha, que tinha sido empurrada numa
teia francesa. Estes não aceitavam as manufaturas germânicas como forma de
pagamento da dívida de guerra (que se não fosse por interferência americana
seria de US$ 33bi.). Então só restava aos alemães pegarem anualmente altas
quantias com os Estados Unidos para pagarem a dívida. Este artifício francês
para prejudicar a recuperação alemã, acabava prejudicando toda a Europa.
A
América reacionária
Nesse período os negros
eram excluídos sob todos os aspectos da sociedade do consumo. A Ku Klux Klan,
que havia ressurgido no final da década de 1910 pelas mãos do professor de
História Willian Simmons ganha ainda mais força. Adicionaram o antissemitismo e
o anticatolicismo ao racismo já existente na doutrina. Tinham se tornado ainda
mais violentos. Estavam envolvidos em diversos assassinatos de negros, mas
sempre contavam com a anuência dos tribunais. Só perdem força quando um
importante membro da organização estupra e mutila uma mulher branca, que se
suicida em seguida. Este acaba sendo condenado à prisão perpétua.
As bebidas alcoólicas
são proibidas com a Emenda Constitucional nº 18 que Nova Iorque o número de
bares salta de 15000 antes da lei para 32000[3]
após a sua entrada em vigor. Além disso, a medida favoreceu o florescimento do
crime organizado com o surgimento de figuras como Alphonsus Gabriel Capone,
mais conhecido como Al Capone ou Scarface devido à uma cicatriz no rosto que
ganhou numa briga de rua[4].
Ele compra praticamente toda a policia, poder executivo e judiciário da cidade
de Chicago, e vários como ele surgem no país. Parte do seu dinheiro, e de
outros grupos mafiosos passam a irrigar o mercado de ações.
O conservadorismo havia
tomado conta também das escolas. No Estado do Tennessee, Johnny Scopes, um
professor de biologia ousou desafiar o governo e os fundamentalistas
protestantes e passou a ensinar os seus alunos o evolucionismo. Foi a um
primeiro julgamento e condenado, mas no seguinte na Suprema Corte acabou sendo
absolvido.
Talvez nada supere em
termos de conservadorismo e covardia a condenação de Sacco e Vanzetti. Ambos eram italianos e para suas desgraças
anarquistas. Em maio de 1920, são acusados de roubo e assassinato. São preso com
armas, mas naquela época (como ainda hoje) não havia nada de ilegal nisso. A
perícia é forjada e o júri direcionado. O juiz Thayer desconsidera a confissão
do verdadeiro culpado, Celestino Madeiros e ao final do julgamento no qual
foram condenados à morte diz “ viu o que fiz com aqueles bastardos anarquistas”[5].
Protestos surgem em várias partes do mundo, a embaixada norte americana em
Paris chega a ser atacada. É pedido o perdão ao governador do Estado de
Massachusetts, e este passa a decisão a um grupo de três “sábios”, formado por
dois estudantes de graduação e um juiz aposentado. Estes determinam a
manutenção da pena.
É difícil não pensar
que numa sociedade tão sufocante quanto esta, as pessoas não se voltassem para
valores exclusivamente materiais, ainda que travestidos em benesses concedidas
por Deus a quem se esforça. Essa sociedade conservadora e com falhas graves de
caráter vai alimentando e sendo engolida por uma bolha que estouraria no final
da década.
O
caminho da crise
A febre por ações
começa por volta de 1924. Não só as classes mais altas, mas também a classe
média entrava firmemente no negócio. Havia a crença que podia se ficar rico sem
muito esforço. Talvez influenciada pela bandidagem crescente no país, resultado
da Lei Seca. A questão do enriquecimento fácil era verdade, mas só valia para
alguns especuladores. Ano a ano o número de ações negociadas na bolsa aumentava
firmemente. Havia dinheiro disponível para isso. Os bancos pegavam na Reserva
Federal a juros de 5% e reemprestavam a 12%. Lucravam duplamente.
O mercado mostra sinais
de instabilidade, a simples interrupção da fabricação do Ford T em 1927 já
causou abalos no mercado, além disso, um ano antes havia estourado uma crise
imobiliária na Flórida. Muitos, correndo atrás de dias quentes no inverno,
passaram a comprar lotes na Flórida. A atividade de venda ganhos contornos
especulativos, pedia-se um adiantamento de 10% para a compra de lotes muitas
vezes a dezenas de quilômetros da praia. Um furacão varre várias cidades da
região, assim como o sonho de muitos.
Os sinais de uma crise
também eram vistos pelo governo, o próprio Presidente Hoover eleito em 1928
tentou agir, mas os estudiosos e a imprensa estavam do lado dos especuladores.
E muitos políticos ganhavam dinheiro com isso. Como disse J.K. Galbraith: “E o
centro da imoralidade não era os bancos, mas o mercado de ações. Era no mercado
de ações que os homens jogavam não somente com o seu próprio dinheiro, mas com
a riqueza do país”[6]
O ano de 1929 e o
caminho para crise se acelera. Ela chega no final do ano, e ainda assim
políticos especuladores e estudiosos, não percebem a gravidade da situação.
Dias depois da perda de valor dos papéis, empresas de corretagem faziam
propagandas anunciando que aquele era o melhor momento para comprar papéis
devido ao valor.
A crise derruba a os
intelectuais liberais, o partido republicano e os mais abastados e a classe
média. Como conseqüência as classes populares também vão à ruína pois dependia
dos empregos oferecidos por estes abastados. Os Estados Unidos param de
investir na Europa, e estes não tem condições nem de comprar produtos
americanos e nem de honrar os seus compromissos. A Alemanha chega a ter uma
taxa de desemprego de 44%. Essa situação desesperadora acaba abrindo caminho
para a vitória do então inexpressivo NSDAP, comandado pelo então ex-cabo e
desconhecido Adolf Hitler.
Foram necessários 10
anos para economia americana se recuperar, mas esta só foi consolidada com a II
Guerra Mundial. Mecanismos de controle do mercado foram criados, assim como
alguns especuladores foram investigados e punidos. Essa crise destruiu o sonho
de milhões de americanos sem acesso a previdência então inexistente e jogou o
mundo no caminho para o confronto mais sangrento de todos os tempos.
Conclusão
Um sociedade
conservadora, onde imperava valores protestantes muitas vezes ultra radicais,
nos quais se via auxílio social como algo errado pois as conquistas tinham que
vir do trabalho, e por outro lado um alto índice de corrupção podem ter moldado
a crise. Ao mesmo tempo em que parece existir essa relação, é um pouco complexa
de se comprovar, mas o exercício do historiador também é lançar questões, sem
necessariamente chegar a uma conclusão acabada.
Bibliografia
GALBRAITH, John Kenneth. O colapso da bolsa, 1929:
anatomia de uma crise. 2º Ed. Pioneira, São Paulo, 1979.
HOBSBAWN, Eric J. A era dos extremos – O breve
século XX, 1914 – 1989. 2º Ed.Cia. Das Letras, São Paulo, 2000.
Revista de História da Biblioteca Nacional, pg 25.
Nº 68, maio de 2011.
ROBERTS, J.M. A nova era: a América dos anos 20. In:
Enciclopédia História do século XX. Abril. São Paulo, 1974.
[1]
História do Século XX. Pg. 1219.
[2]
Idem.
[3]
Idem pg. 1231.
[4]
Revista de História da Biblioteca Nacional. Nº 68.
[5]
Enciclopédia História do Século XX.
[6] O
colapso da bolsa, 1929. Pg. 197.
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