No período em
que a Corte Portuguesa esteve no Brasil (1808-1821) e logo imediato à
independência do Brasil em 1822, existiram forças políticas comumente
confundidas com partidos políticos. Eram o Partido
Brasileiro e o Partido Português.
O primeiro grupo era formado por membros das elites brasileiras favoráveis à
independência e na defesa de seus interesses pessoais e o segundo grupo era
formado por comerciantes, militares e nobres portugueses residentes no Brasil
que eram contra a independência ou queriam manter os seus interesses após a
independência.
No Período
Regencial (1831-1840) surgiram partidos políticos organizados, com destaque
para o Partido Liberal em 1831 e o Partido Conservador em 1836. Ambos eram
partidos que defendiam os interesses dos grandes proprietários de terra e
comerciantes. A única diferença entre estes partidos era que os liberais
defendiam que aos poucos a escravidão fosse encerrada, já os conservadores
resistiram por décadas.
Em boa parte da
história do Brasil Império, o voto foi censitário,
ou seja, só podia votar pessoas com rendas acima de 100 mil réis por ano.
Mulheres e escravos também estavam excluídos do processo eleitoral. Apesar da
alta exclusão, cerca de 13% dos homens livres tinham direito ao voto. É pouco
comparado aos tempos atuais (mais de 70% dos brasileiros estavam aptos a votar
em 2018), mas por incrível que pareça o Brasil não estava tão ruim comparado a
outros países europeus. O historiador José Murilo de Carvalho apontou que no
final do século XIX, 2% dos italianos tinham direito a voto, 7% dos ingleses,
2,5% dos holandeses e 9% dos portugueses.
Entretanto, as
eleições brasileiras eram marcadas por fraudes na contagem de votos, ameaças e
espancamentos de candidatos e eleitores e compra de votos. Tudo isso era facilitado
pelo fato de o voto ser aberto (outros eleitores e o mesário viam em quem o
eleitor votava). Ao invés de combater essas práticas, os políticos brasileiros
criaram uma nova legislação eleitoral extremamente excludente, a Lei Saraiva de 1881 na qual os
analfabetos foram proibidos de votar, reduzindo para 1% o número de votantes. A
porcentagem sofreria poucas alterações até 1930.
Ainda durante o
Brasil Império, surgiu o Partido
Republicano Paulista, fundado na cidade de Itu em 1873. Com a proclamação
da república em 15 de novembro de 1889, os partidos Liberal e Conservador foram
dissolvidos, dando lugar a outros partidos regionais como o Partido Republicano Mineiro, Rio-grandense, além do Paulista que
ganhou maior relevância. O voto aberto e
apenas para homens alfabetizados foi mantido.
Em 1922, fruto
das mobilizações dos trabalhadores, principalmente a partir das greves de 1917
e dos desdobramentos da Revolução Russa, foi fundado o Partido Comunista Brasileiro (PCB), que imediatamente foi colocado
na ilegalidade. Na tentativa de burlar a lei, o partido lançou candidatos com o
nome de Bloco Operário Camponês e chegou a eleger alguns vereadores e
deputados, mas novamente foi colocado na ilegalidade.
Com a chegada de
Getúlio Vargas ao poder em 1930, foi mantida a tradição de partidos políticos
regionais, embora o processo eleitoral tenha se tornado mais limpo com a
criação da justiça eleitoral, voto secreto e o voto das mulheres, aumentando
para quase 20% o número de votantes, já que a proibição aos analfabetos foi
mantida. No entanto, surgiram dois grandes partidos políticos nacionais, a Aliança Nacional Libertadora (ANL) de
esquerda, formada pelos membros do PCB e liderada por um dos líderes da Coluna
Prestes, o ex-tenente Luís Carlos
Prestes e a Ação Integralista
Brasileira (AIB) de extrema direita, com inspiração no fascismo italiano
liderado por Plínio Salgado.
A ANL e a AIB
protagonizaram violentos protestos de rua no início dos anos 1930 nas
principais cidades brasileiras, em alguns casos tendo resultado em mortes. A
ANL foi proibida, mas a AIB, por apoiar o governo Vargas foi mantida na
legalidade. Em 1935 ocorreu a Intentona
Comunista, tentativa de revolução comunista dos membros da ANL que acabou
fracassando, apesar de terem chegado a dominar Natal-RN. Os líderes foram
presos, incluindo Luís Carlos Prestes. Sua esposa, a judia-alemã Olga Benário foi presa grávida e
deportada para a Alemanha Nazista. O bebê foi trazido para o Brasil, mas Olga
morreu anos depois num campo de concentração. Em 1937, Getúlio Vargas com apoio
de militares deu um golpe de estado que ficou conhecido como Estado Novo e a
AIB também foi colocada na ilegalidade.
Em 1945 Vargas
foi tirado do poder e o país entrou pela primeira vez num regime de fato
democrático. Surgiram 15 partidos políticos, com destaque para os seguintes:
· Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) de centro-esquerda
e formado por trabalhadores urbanos e camponeses, parte progressista da classe
média e do empresariado;
· Partido Democrático Social (PSD) de centro-direita
formado por empresários, fazendeiros e parte dos trabalhadores que apoiavam
Getúlio Vargas;
· Partido Comunista Brasileiro (PCB) de extrema
esquerda e pela primeira vez na legalidade, algo que só duraria até 1947;
· União Democrática Nacional (UDN) de direita,
formado por grandes fazendeiros, comerciantes e pela parte conservadora da
classe média e das classes populares, contrários a educação pública, à reforma
agrária e a ampliação de direitos sociais.
Com o golpe militar de 1964, os partidos políticos
foram provisoriamente mantidos, sendo extintos em 1966. Os militares
autorizaram a formação de apenas dois partidos políticos, a Aliança Renovadora Nacional (ARENA),
apoiadora dos militares e o Movimento
Democrático Brasileiro (MDB), formado pelos opositores ao regime. É
importante destacar que os militares fizeram isso somente para dar aparências,
principalmente no exterior de que o Brasil vivia em normalidade democrática.
Porém a realidade, claro não era essa. Qualquer político do MDB que fizesse uma
crítica mais dura aos militares tinha o seu mandato cassado.
Graças as
pressões tanto internas quanto externas, os militares aceitaram afrouxar o
regime. Em 1979 foi aprovada a Anistia, permitindo a volta dos que haviam sido
expulsos do Brasil nos primeiros anos da ditadura. No ano seguinte, uma reforma
eleitoral permitiu a criação de outros partidos políticos. A ARENA se manteve
unida e teve seu nome alterado para Partido
Democrático Social (PDS) e o MDB deu origem a vários partidos, com destaque
para:
· Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) de centro, eram
os membros do MDB que optaram por permanecerem unidos;
· Partido Democrático Trabalhista (PDT) de
centro-esquerda, formado por membros do PTB pré-1966, parte dos trabalhadores
urbanos e rurais e de movimentos sociais, como o movimento negro, tendo como
principal líder o ex-prefeito de Porto Alegre e ex-governador do Rio Grande do
Sul Leonel Brizola;
· Partido dos Trabalhadores (PT) de esquerda e
de forma inédita na história brasileira formado por uma base formada por
trabalhadores urbanos e rurais, setores progressistas da classe média e da
Igreja Católica, tendo como principal líder o sindicalista e líder grevista
Luís Inácio da Silva, o Lula;
· Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) formado numa
manobra dos militares para impedir que a sigla fosse para as mãos de Leonel
Brizola, ela foi concedida a Ivete Vargas, sobrinha de Getúlio Vargas e o
partido passou a levantar bandeiras de direita.
Desde então,
dezenas outros partidos surgiram como o Partido
Socialista Brasileiro (PSB), o Partido
Verde (PV), o Partido Socialismo e
Liberdade (PSOL) a Rede
Sustentabilidade (REDE) o Partido
Comunista Brasileiro (PCB) e o Partido
Comunista do Brasil (PC do B) de esquerda, Partido da Frente Liberal, atual
Democratas, uma dissidência do PDS,
o Partido Liberal e o novo PSD de direita, além do Partido Social Liberal (PSL) e do Partido Novo (NOVO) de extrema direita.
Vale um destaque para o Partido da
Social Democracia Brasileira (PSDB), fundado como uma dissidência do PMDB à
esquerda. Com o passar dos anos, o partido se tornou de direita.
Muitos acabaram
com destaque para o Partido da Renovação
Nacional (PRN), pelo qual Fernando Collor de Melo se elegeu presidente em
1989 e o Partido da Reconstrução da
Ordem Nacional (PRONA) de Enéias Carneiro. Outros mudaram de nome. Um bom
exemplo foi a ARENA, que mudou para PDS em 1980, depois para Partido Progressista Reformador (PPR),
Partido Progressista Brasileiro (PPB), Partido Progressistas (PP) e
recentemente apenas Progressistas.
Essas mudanças nem de longe refletem mudanças na ideologia do partido, que
sempre se manteve de direita ou centro-direita, quando apoiou os governos Lula
e Dilma (2003-2016). Uma explicação pode ser o fato de que constantemente
políticos do partido estarem envolvidos em escândalos de corrupção como os Anões do Orçamento (1993), Compra de votos
para a reeleição (1997) Mensalão (2005), Sanguessugas (2006), Lava-jato
(2014-2019), etc. Usando a linguagem popular, isso “queimava o filme” do
partido forçando as trocas de nome para talvez enganar o eleitor mais
desavisado.
Referência
CARVALHO, José
Murilo de. Cidadania no Brasil: o longo
caminho. 16ª ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2013.
FABER, Marcos. História dos partidos políticos no Brasil. 1ª
ed. Porto Alegre: História Livre, s/d.
Nenhum comentário:
Postar um comentário