GASPARI, Elio. A ditadura
derrotada. 2. Ed. Rio de Janeior: Intríseca, 2014.
Neste
livro o autor se propõe a narrar o mandato de Ernesto Geisel e sua relação com
Golbery do Couto e Silva. Mais do que isso, ele propõe o entendimento dessas
duas figuras para que seja possível compreender as causas da conturbada
abertura iniciada em 1974.
Primeira
Parte
O
autor se dedicou a uma análise da vida dos dois personagens, começando por
Geisel. Ernesto nasceu em uma família pobre e seu pai via o ingresso dos filhos
homens nas Forças Armadas como uma boa chance de ascensão financeira e social.
Um fato curioso é que um prêmio ganho por seu pai na loteria atenuou os
problemas financeiros familiares de forma considerável. Ernesto guardava o
bilhete de lembrança.
Ele
participou da Revolução de 1930 e se tornou secretário da Fazenda da Paraíba.
Ele já demonstrava ser um homem retraído e via com maus olhos a participação
popular na tomada de decisões. Participou da Revolução de 1932, mas não foi
lutar na Segunda Guerra Mundial. Fato importante de destacar é que ele nutria
simpatia pela extrema direita.
A
partir de 1945 se especializou no golpismo. Ajudou na retirada de Vargas do
poder e ficou em cima do muro em 1954. Apoiou a tentativa de barrar a posse de
Juscelino Kubitscheck em 1955, a de Jango em 1961 e desde 1962 já participava
de reuniões conspiratórias para o golpe.
Era
um ferrenho anticomunista. Sua visão de mundo inclusive atrapalhou negócios
brasileiros com a União Soviética de trocar bens de consumo por petróleo. Com
relação a sua retração, um episódio que acabou contribuindo para o aumento foi
a morte de um filho em 1957. Antes de ocupar a presidência da república teve
rusgas com Costa e Silva, ocupou a presidência da Petrobrás e cargo no Superior
Tribunal Militar.
Gaúcho
como Geisel, Golbery não vinha de família pobre. Era oriundo dos estratos
médios da sociedade de Rio Grande. Era um conservador, mas não tão próximo da
extrema direita como Ernesto. Golbery era um intelectual, entretanto se achava
mais genial do que de fato era. Sua participação na ESG, IPÊS, SFICI e depois
na edificação do SNI mostram o seu poderio. Assim como Geisel gostava de uma
alternativa golpista, mas pelo menos não expressava desprezo pela participação
popular na tomada de decisões (o que não quer dizer também aprovava
incondicionalmente).
Para
chegar à presidência, Geisel contou com a ajuda de seu irmão Orlando. Mas após
pouco tempo eles entraram em atrito e a relação dos dois jamais foi a mesma. Geisel
logo no início de seu governo destruiu os sonhos de Delfim Netto de se tornar
governador de São Paulo e posteriormente presidente. O envolvimento do “guru do
milagre” em casos de corrupção facilitaram a vida do presidente.
Geisel
se mostrou favorável ao extermínio dos guerrilheiros do Araguaia. Golbery não
era apoiador nem da tortura e muito menos do extermínio, mas não se opôs
fortemente a eles.
Aos
poucos a pressão da Igreja Católica foi surtindo efeito. As torturas e os desaparecimentos
foram diminuindo, até que entrou em cena a “linha dura”. Eles estavam lotas em
sua maioria em órgãos de informação como o SNI querendo esquentar as coisas
novamente. E começaram elegendo um novo inimigo: o PCB.
O
PCB não estava envolvido na luta armada e a maioria de seus integrantes nem
estavam na clandestinidade. Ainda assim foram enquadrados como “ameaça” ao
regime. A trágica Chacina da Lapa em 1976 que ceifou a vida de três integrantes
do partido é um exemplo da opção covarde da linha dura. Geisel e Golbery
perceberam o monstro que tinham criado e com paciência e movimentos cirúrgicos
foram “podando” o SNI.
Em
novembro de 1974 veio das urnas o resultado arrasador da inflação e da má
qualidade de vida dos mais pobres. Inicialmente o governo previra que ganharia
de 18 a 22 cadeiras na disputa pelo senado. O resultado: MDB 26 X 6 ARENA. A
cúpula do regime não enxergou o que de fato levou a fragorosa derrota. Geisel
culpava o povo de não saber votar, João Figueiredo foi além e taxou os eleitores
de “povo de merda”.
Eles
também jogaram a culpa no presidente da ARENA, Petrônio Portela. Ele não teria
sido capaz de enxergar as potencialidades do MDB. Geisel preferiu num primeiro
momento aceitar o resultado. Enquanto isso a linha dura mostrava força
prendendo e torturando sem motivo aparente a economista Maria da Conceição
Tavares. O que foi ainda pior foi a audácia da linha dura. Quando Geisel e
Golbery pediram informações sobre ela no SNI eles informaram que não havia
ninguém lá presa com esse nome.
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