PILETTI,
Cláudio e PILETTI, Nelson. História da
educação: de Confúcio a Paulo Freire. São Paulo: Contexto, 2012.
Na obra, os filósofos se propõem a destacarem os
pensadores por eles julgados de relevo e dispô-los cronologicamente, numa
avaliação da contribuição de cada um para o desenvolvimento da educação. A
ideia é boa, afinal um especialista, em qualquer área que seja deve conhecer
a história do seu campo de trabalho,
para que possa melhor desenvolvê-lo. No entanto o livro apresenta algumas
limitações, inclusive esperadas tendo em vista a grandiosidade proposta.
Nos primeiros capítulos, sobre Confúcio, Moisés,
Sócrates, Cícero, Santo Agostinho, Averróes, Tomás de Aquino e Martinho Lutero
são marcados pela concisão excessiva. Eles representam apenas uma breve
introdução sobre vida obra e contexto no qual esses autores estão inseridos.
Personagens tão importantes da História da educação mereciam capítulos com
maior musculatura.
Já no capítulo sobre Padre José de Anchieta, eles
fazem importantes detalhamentos sobre a contribuição dos jesuítas no
estabelecimento da educação na Colônia e os prejuízos que acarretaram a sua
abrupta retirada por ordem do Marquês de Pombal em 1759. O capítulo sobre
Comênio, assim como os citados é excessivamente sintético. Uma surpresa
negativa foi o capítulo dedicado à Rousseau. Por se tratar de filósofos,
esperava-se maior destaque a esse autor. O mesmo pode se dizer do capítulo
sobre Comte.
A seção dedicada a Nísia Floresta já é mais rico em
informações. Nele é destacado o baixíssimo alcance do ensino, principalmente o
técnico onde de acordo com os dados citados pelos autores no ano de 1864 haviam
apenas 106 alunos matriculados. Além disso, trazem outras informações
importantes sobre a educação durante o Brasil Império (1822-1889) como a
desnecessidade de se completar o ensino secundário para se ter acesso ao nível
superior, o que gerava desestímulo a continuidade desses estudos. Eles destacam
a importância de Nísia para o acesso das meninas à educação com a criação do
Colégio Augusto no Rio de Janeiro em 1838, que permitiu que elas tivessem
acesso a disciplinas como Ciências e Educação Física.
No capítulo sobre José Veríssimo eles analisam as
críticas que ele fazia a falta de articulação entre as modalidades de ensino e
principalmente a falta de uma rede nacional de ensino. Os autores também fazem
uma análise crítica a preferência que foi dada durante a I República
(1889-1930) para o ensino de nível superior.
Já sobre Maria de Montessori, ressaltam o fato de a
educadora defender a criança como um ser humano completo, e não apenas como uma
espécie de “mini adulto” e também a necessidade de uma relação quase que
maternal entre educadores e educando. Ao tratar de John Dewey e a Escola Nova,
também fazem uma boa análise da obra do americano e da sua defesa em prol de um
modelo de ensino que valorizasse o que o aluno trazia de informação consigo e a
necessidade de se aliar o conhecimento escolar com o dia a dia dos indivíduos.
É dado destaque a também a Makarenko e sua
iniciativa de tornar a escola um ambiente menos competitivo e mais humano.
Entretanto, no capítulo sobre Nyerere e seu esforço por um ensino que resgate
as tradições culturais do continente africano sufocada pelos colonizadores
europeus, há uma visão equivocada da África onde se destaca o continente como
tendo longa tradição histórica justamente por causa dos povos que a ocuparam, e
não pelos nativos.
A partir de Fernando de Azevedo, todos os educadores
abordados são brasileiros. Este especificamente, de acordo com a obra era um
grande defensor da padronização e articulação dos currículos escolares, além da
ampliação no atendimento aos alunos, melhorias na formação dos professores e
até mesmo auxilio financeiros aos estudantes mais necessitados.
Outro capítulo bastante interessante é o sobre
Gustavo Capanema e o modelo educacional por ele implantado a partir do Estado
Novo em 1937 onde houve uma clara divisão entre o ensino para as classes
populares. O primeiro era voltado para uma formação de nível técnico que não
permitia o acesso a educação de nível superior, reservando dessa forma para as
elites esta modalidade, que deveria formar, os administradores das empresas e
dos futuros governantes. Já para o povo era reservado no máximo o ensino
técnico, para dessa forma conseguir leve ascensão social e aperfeiçoar a
produção industrial.
No capítulo sobre Paulo Freire é destacado a longa
luta (13 anos) para aprovação da primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional em 1961. Apesar da permanência do Ensino Religioso, houve importantes
inovações como a inclusão de Educação Física e a possibilidade a que fizesse
cursos técnicos de ter acesso ao nível superior. Também se dá destaque a
tentativa do educador pernambucano de alfabetizar milhões de adultos com o
método que levava o seu nome, e que visava a educação aliada à conscientização
política, mas que foi violentamente encerrado pelo golpe civil-militar de 1964.
Um ótimo capítulo é o que aborda a elitização da
educação promovida por Valnir Chagas durante a Ditadura Militar (1964-1985),
com a transformação do vestibular em exame eliminatório (antes de 1964 ele era
classificatório, gerando excedentes de estudantes que constantemente protestavam
pedindo aumento de vagas) e a obrigatoriedade do ensino médio de nível técnico.
Dessa forma era garantida a permanência de milhões de jovens nesse nível de
ensino, praticamente inviabilizando o acesso ao nível superior, que aliás
sofreu um processo de privatização no período, largamente incentivado pelos
militares.
Nos três últimos capítulos os autores destacam o
papel de Darcy Ribeiro na tentativa de melhorar o ensino brasileiro e de suas
frustrações com a UnB, invadida e remodelada pelos militares e os Centros
Integrados de Educação Pública - CIEP, grande iniciativa da gestão Leonel
Brizola (1983-1987) da qual era vice-governador e de seu encerramento pelo
opositor eleito, Moreira Franco, além de suas contribuições para a LDB de 1996.
Além de Darcy, eles abordam o papel da UNESCO no auxílio e fiscalização para o
alcance de metas de universalização e melhorias na educação, e finalizam
tratando do papel do professor na sociedade atual.
Apesar da concisão em alguns capítulos e de alguns
anacronismos, o livro tem ótimos capítulos, principalmente os que tratam de
acontecimentos mais recentes, além de ter o seu valor em servir como uma
introdução ao tema.
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