Meteoro Brasil. Tudo o que você desaprendeu para virar um idiota. São
Paulo: Planeta do Brasil, 2019. 288 p.
Antes de tudo, o idiota
- Os
autores remontam à Grécia Antiga para explicar a origem do idiota. Idiota
naquela época era o cidadão que abria mão de participar das tomadas de decisão
da cidade, ou seja, de participar da política local e assim contribuir para o
coletivo. O idiota atual continua com uma visão de mundo individualista, mas
agora se insere com força no universo político para tentar impor sua visão de
mundo (idiota) aos outros via mídias sociais principalmente.
- “O
idiota era um egoísta no passado – e continua sendo. A diferença é que, na
antiga Atenas, ele ficava de fora da política. Hoje, ele é a política. Tudo é
feito por ele, para ele, em nome dele. Por isso, a prioridade absoluta do
idiota é combater qualquer filosofia ou doutrina que pregue valores coletivos.
Se há um coletivo, o idiota se sente ameaçado em seu direito sagrado de ser
idiota. Essa é a primeira lição que foi preciso desaprender para virar um
idiota: o respeito a todos e a tudo que não está relacionado a si mesmo.” (15).
Causa mortis
-
“E, com as declarações propositalmente polarizadoras, vieram as mentiras. Não
que em política isso seja novidade, mas, na década em que esse novo paradigma
de liderança emergiu, as mentiras passaram a se organizar para formar teorias
conspiratórias elaboradas e complexas.” (17).
- “O
teste de autoritarismo de Levitsky precisa de apenas 4 etapas para entregar um
resultado: primeiro observamos se o líder em questão rejeita as regras do jogo
democrático. Por exemplo: se alguém, ao disputar uma eleição, diz que não
aceitará o resultado em caso de derrota; isso é sinal de autoritarismo. Em
segundo lugar, precisamos ficar atentos a qualquer discurso ou comportamento
que encoraje a violência: um político que, durante sua campanha, ensinasse uma
criança a simular uma arma com as mãos, certamente se enquadraria aqui. Na
terceira etapa do teste, observamos se o político em questão nega a legitimidade
da existência de seus adversários políticos; se ele diz, hipoteticamente, que
os adversários merecem ser metralhados, o que nunca é bom sinal, pouco importam
as qualidades morais dos adversários. Por fim, devemos reparar se o aspirante
ao cargo, em algum momento, sugere que usará seu poder para restringir as
liberdades civis de seus opositores ou prejudicá-los de alguma forma; aí
poderíamos enquadrar alguém que se dissesse capaz e disposto a acabar com
“todos os ativismos do Brasil”. (18)
- Os
pilares do fascismo basicamente seriam: negação do resultado de eleições,
idolatria por um passado mítico, anti-intelectualismo, destruição da verdade,
hierarquização da sociedade, vitimismo, perseguição aos opositores, tensão
sexual, puritanismo e acusações de preguiça aos que não aderem à nova ordem.
- O
fascismo sempre se valeu da tecnologia para a sua difusão. Não à toa Goebbels
julgava a invenção do rádio tão importante quanto a da escrita e o governo
nazista obrigou as grandes empresas do setor a fabricarem um modelo de rádio
popular. Um detalhe: o modelo mais vendido (VE301) só captava estações de rádio
alemãs, ou seja, impediam o ouvinte de ter contato com pontos de vista
contrários.
-
“Da mesma forma, no século XXI, alguém capaz de mobilizar um aparato de disparo
massivo de conteúdo estaria operando segundo os mesmos princípios – seja por
meio de um aplicativo de troca de mensagens, seja instruindo seus apoiadores a
consumirem informação apenas de suas fontes selecionadas, retirando a
credibilidade de todas as outras. Talvez a verdade tenha morrido porque o
fascismo – e aqui voltamos a falar de fascismo como técnica, mais do que como
regime ou ideologia – finalmente voltou a encontrar as ferramentas necessárias
para cometer o ato. Para que essa hipótese seja válida, é necessário assumir
que o fascismo nunca deixou de estar entre nós. Se conseguiu muito do que
queria só agora, foi porque a tecnologia lhe concedeu novas possibilidades.”
(25)
-
“Originalmente, o termo meme surge de uma analogia entre os funcionamentos da
genética e da memória (e, por extensão, da cultura também). Formulado em 1976
por Richard Dawkins em seu O gene egoísta, o meme é uma unidade básica de
informação, transmitida pelas mais variadas formas de comunicação. Como os
genes, que definem as características de vários corpos físicos por meio da
propagação, memes definem culturas na medida em que se propagam. Guerreiro, no
entanto, ao nos narrar os efeitos da eleição de um meme, está se referindo à
compreensão, ainda que pouco consensual, que a internet tem do termo: “A
duplicação e a proliferação são as principais características dos memes da
internet; não há meme sem duplicação de um espaço para outro. Portanto, é a
partir dessas características que se relacionam os conteúdos de internet, e
assim foram designados memes”. As duas visões, com efeito, se relacionam; uma
enfatiza os aspectos unitários da informação memética, enquanto a outra
reconhece nas formas de transmissão da rede o canal ideal para esse tipo de
pedaço de informação. Na internet, os memes replicam, segundo Guerreiro,
“ideias reduzidas a pequenos conteúdos”. Quanto mais síntese e quanto mais
caricatura, maior a capacidade de reprodução: “A capacidade de um texto
científico tornar-se viral é quase zero, e se acontece, não é um meme, pois
ninguém consegue reproduzir com facilidade 40 páginas de um texto científico”.
Esse é um ponto de virada importante na reflexão. Se reconhecermos que a
informação memética que circula na internet depende de algum tipo de redução e
apelo de transmissão a fim de manter o efeito viral, talvez possamos entender
por que alguns tipos de mensagens parecem circular mais facilmente do que
outros e quais as consequências disso para a formação da cultura – ou para uma
eleição. (27)
-
“Ressonância é a capacidade que uma mensagem tem de gerar debate a respeito de
si mesma, ao menos em ambientes particulares. Se encontramos um estranho no
ponto de ônibus e nos sentimos dispostos a puxar papo sobre um determinado
tema, é porque o tema tem ressonância. A ressonância, explica Koopmans, depende
da legitimidade. Mensagens altamente legítimas não são capazes de gerá-la: como
todos concordam com ela, não há muito que acrescentar, e qualquer possibilidade
de debate se esgota. Da mesma forma, mensagens ilegítimas também carecem de
ressonância porque, quando todos discordam, forma-se um consenso que é
igualmente eficaz em limitar as possibilidades de um debate. Para alcançar a
ressonância, é necessário estar naquele ponto central da régua imaginária da
legitimidade. Em síntese, é preciso ser polarizador. E a ressonância é o que
define se a mensagem em questão terá visibilidade. Em Koopmans, visibilidade é
a “extensão da cobertura dos meios de comunicação de massa”, proporcional à
ressonância. Ou seja: assuntos que geram debates na sociedade ganham mais
atenção na mídia. A ideia aqui é simples: são as teses apenas mais ou menos
legítimas que ganham ressonância entre nós. Elas geram debates longos e talvez
desgastantes, quem sabe até uma briga na mesa do almoço de domingo. São elas
que os meios de comunicação de massa preferem. Afinal, se elas nos mantêm
discutindo durante horas, certamente terão potencial de nos manter colados
diante da televisão por períodos igualmente longos.” (31)
As bobagens que precisamos levar à sério
- “Como
veremos, todas as teorias conspiratórias, por mais mentiras que possam conter,
são invariavelmente irrefutáveis – justamente porque são questões de crença e
não argumentações ancoradas na realidade. Ademais, seus métodos discursivos
blindam qualquer tipo de argumentação contrária, pois quem as critica só pode
estar comprado, a serviço de algum tipo de organização malévola – ou deve ser
respondido com ofensas. As conspirações propõem um jogo em que elas sempre
vencem.” (34)
- “
[...]as teorias conspiratórias são um tipo muito perverso de narrativa. Nelas,
o desconforto e a insegurança trazidos pela incapacidade de compreender o mundo
cedem lugar a uma falsa noção de superioridade: aquele que crê numa teoria
conspiratória que explica tudo, do micro ao macro, acha que superou o
desconforto da condição humana. Para ele, é triste a posição dos outros, seres
atirados dentro de um universo que não compreendem, vivendo vidas vazias sem
enxergar a realidade que ele, o conspirador, julga ter desnudado.” (35)
- Cada
vez em que alguém mergulha nas teses conspiratórias, perde contato com a
realidade e não raro se torna agressivo com quem tenta lhe trazer à realidade
novamente.
Filtros: gatekeeping
-
Gatekeeping é o filtro pelo qual uma notícia passa antes de chegar ao
expectador. É a prova maior da impossibilidade de neutralidade na comunicação
social.
-
“Quando um texto requer do leitor aceitação total dos fatos apresentados, sem
qualquer questionamento, ele toma para si a posição de porteiro do conhecimento.
Com as chaves na mão, obriga o leitor a aceitar o caminho indicado ou sentir-se
– acho que você já sabe o que vem aí – um idiota.” (41)
-
Teorias conspiratórias revelariam segredos. Seriam portanto “chaves do poder” e
quem não as tivessem seriam “ignorantes”.
-
“As teorias conspiratórias, por mais que pareçam nascer da saudável dúvida,
aprisionam o sujeito no destino das certezas. Como veremos, elas possuem a
peculiar capacidade de comprovar a si mesmas. Não gostam muito de companhia,
exceto de outras teorias conspiratórias.” (42)
Cap. I – Teorias conspiratórias são
irrefutáveis, mas isso não as torna verdadeiras
- O
jornalista americano Jesse Walker classificou as teorias conspiratórias em 5
tipos: as externas (inimigo externo), interna (o câncer a ser combatido), os de
cima “altos setores da sociedade comprometidos em destruir os demais) os
debaixo (inverso) e a benevolente (forças naturais ou sobrenaturais lutariam
para evita o pior).
- Já
o prof. Michael Barkun aponta de quais direções vem uma teoria. Existiriam as
sobre eventos específicos (morte de Kennedy ou 11 de setembro teriam uma mesma
“base”). Ela ganha terreno num ambiente de pouca informação ou alienação.
Haveria também as teorias conspiratórias sistemáticas, que incluiriam poderosos
atores para dominar um país ou o mundo todo e as superteorias, que seriam uma
mistura da 1ª e da 2ª.
- “O próprio Barkun aponta
que houve um crescimento monstruoso nas superteorias da conspiração a partir da
década de 1980. Tal crescimento deu-se, sobretudo, dentro dos círculos
perenialistas da extrema direita norteamericana. O perenialismo é uma escola
filosófica nascida na primeira metade do século XX que sobreviveu, quase
sempre, à margem da academia. Misturando misticismo e um desejo de voltar a uma
fabulação mágica do passado, os membros do perenialismo acreditam em uma verdade
absoluta inerente às tradições e religiões antigas. Contra essa verdade
absoluta, existe a ameaça da “modernidade”. É aqui que a distância da academia
começa a pesar nas costas do perenialismo: há pouquíssima descrição conceitual
dessa modernidade (própria da filosofia) e muita demonização em torno dela
(própria do misticismo). Em alguns casos, a “modernidade” é o próprio demônio.”
(48)
- “O desafio para que o oponente
do adepto da teoria da conspiração o refute em um debate é quase uma armadilha
conceitual, pois a negação sumária das teorias conspiratórias é impossível do
ponto de vista lógico. Basta concluir que o outro lado é parte de um esquema
acadêmico/ econômico/político/religioso de domínio e doutrinação para que
nenhuma teoria seja refutada. Por outro lado, é só apresentar uma teoria da
conspiração para que argumentos cientificamente estabelecidos sejam
sumariamente destruídos, refutados, pisoteados, violentados – as expressões de
violência funcionam bem porque expressam o desejo destrutivo desse tipo de
estratégia comunicacional.” (49).
Cap. 2 – Globalismo não existe
- “Concebido
originalmente em obscuros círculos conspiratórios nos Estados Unidos do século
XX, o globalismo chegava ao Brasil, onde finalmente seria levado a sério. Pois
é, globalismo é coisa velha, mas é necessário que se reconheça o esforço
brasileiro para atualizá-lo. Na vertente conspiratória nacional contemporânea,
à qual o chanceler subscreve, o mundo estaria dividido em 3 blocos distintos.
Haveria um bloco eurasiano, outro ocidental e um terceiro bloco islâmico. A
cada bloco, a teoria conspiratória atribui um modelo de operação: o bloco
ocidental tenta se impor pelo domínio econômico; o bloco eurasiano apostaria no
ponto de vista geopolítico e militar; o bloco islâmico estaria mais interessado
em impor sua religião ao restante do planeta.” (52-53)
-
Ela reúne toda a complexidade do mundo em 3 blocos econômicos, militares e
religiosos. É a facilidade que os amantes da teoria da conspiração almejam:
algo simples que seja capaz de explicar qualquer coisa.
- A
versão brasileira reforça a participação do “Consórcio”, grupo formado por
super-ricos comprometidos na vitória do comunismo (Eurásia). Isso mesmo...
- No
pacote entra também a farsa do aquecimento global e a ideia de que vacinas
interessariam ao Consórcio como ferramenta de controle populacional.
- Olavo
de Carvalho teria “parido” a versão abrasileirada do globalismo.
- Um
dos teóricos do perenialismo, Julius Evola escreveu textos racistas e
misóginos, além de ter trabalhado para dar sustentação intelectual ao governo
Mussolini.
Cap. 3 – A Religião Biônica Mundial não
ameaça a moral judaico-cristã
-
“Durante a maior parte da história, cristãos e judeus se esforçaram na
tentativa de distanciar as duas tradições, evidenciando suas diferenças. Muitos
dos conflitos que a humanidade viu ao longo do século XX nos levam a crer que
foram bem-sucedidos. A vontade de separação também se fez presente no interior
das comunidades cristãs e judaicas. Ao longo dos últimos dois milênios,
surgiram muitos cristianismos e muitos judaísmos diferentes. São vertentes
diversas e conflitantes. Cada qual possui um entendimento próprio do que é e
não é moral. Com isso, a moral judaico-cristã se torna uma abstração
generalista na medida em que abriga uma complexidade difícil de unificar.
Abrigar todas as vertentes cristãs e judaicas sob um mesmo termo é nocivo –
sobretudo àqueles que correm o risco de verem solapados os longos processos
históricos que geraram uma enorme diversidade.” (64)
- A
ideia de “moral judaico-cristã” surgiu no final do século XIX e ganhou força no
pós II Guerra Mundial, momento em que o trauma do holocausto judeu ainda era
forte e que Israel se tornava cada vez mais uma ferramenta dos EUA no contexto
da Guerra Fria.
-
“Ao menos mil anos separam Moisés e Jesus. Muita coisa acontece em um milênio:
tradições mudam, rituais assumem novas formas. Foi o que aconteceu com a
religiosidade judaica: um contínuo processo de transformações induzido e
influenciado pelas culturas com as quais os antigos hebreus entraram em
contato. Diante disso, Jesus marcava o movimento de radicalizar tais
transformações ao ignorar limites da fé judaica e até mesmo acentuar princípios
morais mais básicos: “Ouvistes que foi dito aos antigos: Não matarás; aquele
que matar terá de responder no tribunal. Eu, porém, vos digo: todo aquele que
se encolerizar contra seu irmão, terá de responder no tribunal”. (65)
- “A
defesa da moral judaico-cristã identifica em ambas as tradições um código coeso
de valores a serem protegidos. Esses valores resultariam em uma sociedade
patriarcal, feita por homens de bem para homens de bem. Isso, claro,
considerando-se que o homem de bem esteja armado e pronto para não apenas
irritar, mas aniquilar o inimigo que cruze seu caminho. Esse é o sonho
conservador que busca em uma fabulação do passado suas inspirações, ignorando
suas contradições, por mais evidentes que sejam. E uma delas tem nome: Débora.
Muito antes dos reis Saul e Davi, havia os shofethim, líderes e juízes
encarregados de dirigir o povo hebreu. Eles tinham a maior de todas as funções
naquele contexto cultural e histórico. E quem a cumpriu? Débora. Como shofeth –
o singular de shofethim – ela atuava como estrategista militar e autoridade
judiciária suprema diante das 12 tribos hebreias, formadas depois da conquista
de Canaã.” (66)
-
“Hoje, a abstração de uma moral judaico-cristã unificada e indivisível estaria
ameaçada por algo chamado de “Religião Biônica Mundial”. Esta última, mais do
que uma abstração conveniente, como é o caso da moral judaico-cristã, é mera
invencionice. Mulheres lutando pelo direito a seus próprios corpos e a
comunidade LGBTQI+ lutando pelo direito de amar estariam envolvidas proposital
ou inadvertidamente em um sórdido conluio mundial. O objetivo seria o de
implantar uma antirreligião simpática ao aborto e capaz de abrir caminho para a
“ditadura gayzista”. O que parece risível para pessoas de bom senso, é uma
ameaça real a ser combatida pelo governo para muitos brasileiros. A ficção
cobre os buracos na realidade e torna um mundo desafiador – “algumas pessoas
têm costumes e comportamentos diferentes dos meus” – em uma certeza ameaçadora
e reconfortante – “há um inimigo doutrinador que deve ser combatido”. A
fantasia da Religião Biônica Mundial ameaçaria a abstração da moral
judaico-cristã
e teria o apoio direto da elite financeira global, que se beneficiaria de forma
não especificada da tal “ditadura gayzista”. Sua implementação exigiria, em
primeira instância, a normalização da homossexualidade entre as crianças. Vem
daí o também inexistente “kit gay” e a mamadeira erótica que teriam sido
distribuídos nas escolas brasileiras na gestão da presidenta Dilma Rousseff.
Dilma, aliás, estaria envolvida diretamente nos planos conspiratórios, sem
nenhuma explicação de qual seria a vantagem para a ex-presidenta em promover o
tal novo regime. (67)
- A
suposta superioridade da inexistente moral judaico-cristã seria meio caminho
para o racismo, pois prega superioridade cultural.
- “E
justamente quem nos alerta para os perigos da Religião Biônica Mundial,
acrescentando a presença de uma ex-presidenta na trama, também considera que a
contribuição básica dos negros ao Brasil foi dada por meio do trabalho escravo.
O autor da teoria admite que esse trabalho “construiu a riqueza da Colônia e do
Império”, mas pontua que “foi uma contribuição material, não cultural”. A tese
que se estrutura a partir daí é a de que não há nada de negro ou africano na identidade
cultural brasileira e que, portanto, estaríamos em situação melhor se nos
entregássemos àquela pretensa unidade judaico-cristã, rejeitando todo o resto.”
(69)
Cap. 4 – O medo do marxismo cultural é uma
invenção nazista
-
Anders Breivik usou o “marxismo cultural” como uma das justificativas para os
atentados por ele cometidos contra o Gabinete do 1º Ministro e a Juventude do
Partido Trabalhista Norueguês em 2011. Ao ser condenado, Breivik fez a saudação
nazista.
- “Victoria
conta a saga de personagens valentões que, unidos sob a bandeira do
cristianismo, resolvem combater o crime em sua vizinhança. No decorrer das
páginas, os justiceiros veem sua iniciativa crescer a ponto de resultar na
criação de um exército cristão encarregado de defender os Estados Unidos de um
governo corroído pela praga do marxismo cultural. Victoria, assim, se torna a
visão de Lind para uma restauração dos Estados Unidos a suas origens culturais
e raciais. É uma visão bem violenta: em determinado ponto da narrativa, os heróis
de Lind chegam a esquartejar um professor. Lind encerra a cena assim: “Em menos
de cinco minutos de berros, gritos e uivos, tudo acabou. O chão estava tomado
pelas vísceras do marxismo cultural”.” (75)
- O
marxismo cultural é a atualização do
“bolchevismo cultural”, onde Hitler defendia que artistas e intelectuais
tentavam destruir os valores tradicionais.
-
Para os defensores do marxismo cultural, ele pretende também normalizar o
aborto e a pedofilia, que normalmente eles atribuem a homossexuais.
- O
alvo tanto do bolchevismo, quanto do marxismo intelectual é o mesmo: a Escola
de Frankfurt.
- A
única diferença entre um e outro é que o marxismo cultural usa o termo “moral
judaico-cristã”, justamente para esconder a sua origem nazista.
- A
Escola de Frankfurt estudava os efeitos das mídias na sociedade. Eles cunharam
o termo “cultura de massa”.
- “A
força que aglutinou esses intelectuais, hoje acusados de tramar a dominação do
mundo, foi justamente a percepção de que o marxismo é, antes de tudo, um método
de análise da sociedade e da economia.” (78)
Cap. 5 – Gramsci nunca foi maquiavélico
-
Representações culturais colam com mais facilidade, ainda mais porque a
esmagadora maioria jamais leu Maquiavel, quanto mais Gramsci.
-
Gramsci era estudante bolsista na Universidade de Turim e viu o desenvolvimento
industrial da cidade. Era membro do PSI e mantinha contatos com o operariado.
Fundou o jornal L’Ordine Nuovo que se tornou um sucesso entre os trabalhadores.
Em 1924 foi eleito deputado e em 1926 preso. Em 1936 saiu da cadeia e por
complicações de saúde causadas pelo período no cárcere morreu em 1937.
- Mussolini
considerava o bolchevismo uma “delinquência”, já Olavo chama Gramsci de
“professor de vigarice” e sua obra de “patifaria”. Percebe-se aí mais uma vez a
inspiração fascista do autor.
-
“Afinal, qual é a desonestidade de Gramsci? É sua oposição ao fascismo? Ou
seria seu ímpeto revolucionário?” (85)
-
“Em Gramsci, nasce um universo de conceitos que seriam assimilados pelos mais
diversos campos do saber nas décadas seguintes do século XX, mas a conspiração
do gramscismo, como caricatura, não consegue esquecer um deles: hegemonia
cultural. Em linhas gerais, trata-se da dominação ideológica que ocorre quando
uma determinada elite faz parecer que seus interesses são os de toda a
sociedade. Dessa forma, ficção, jornalismo e historiografia se unem na tarefa
de reproduzir a ideologia hegemônica e seus valores. Seria mais ou menos como
se, de todas as emissoras de TV de um país, nenhuma falasse abertamente sobre
um movimento que pede por eleições diretas.” (85-86)
- Gramsci
apela a vários autores antigos, entre eles Maquiavel para explicar o
sufocamento de uma sociedade por um líder que age como um centauro (meio animal
meio homem).
Cap. 6 – Direitos humanos não são uma
ferramenta de dominação global
- Simples
desrespeito à inteligência básica. E seletivo diga-se de passagem, já que o
mesmo documento garante por exemplo, o direito à propriedade.
- Na
lógica conspiracionista, os direitos humanos serviriam para proteger os
mulçumanos, muitas vezes expulsos de seus locais de origem por guerras
provocadas pelos eurasianos e que vão para o ocidente cristão para destruir a
moral judaico-cristã. O que sobrar desses dois mundos em conflito seria dominado
pelos eurasianos.
Cap. 7 – Politicamente correto é coisa da
direita
- Os
conspiracionistas apontam que Stálin criou o termo “politicamente correto”,
embora sequer exista esse termo no russo. Ele teria surgido durante julgamento
na Suprema Corte dos EUA em 1793 sobre a validade ou não de um cidadão
processar o seu estado. O tribunal entendeu que sim, pois o estado não estaria
acima dos indivíduos, portanto seria “politicamente correto” o pleito em
questão.
- Na
década de 1930, a esquerda dos EUA começou a usar o termo como crítica a uma
linguagem utilizada pelos membros do PC que era descolada da realidade dos
agricultores, por exemplo.
-
Lyndon Johnson usou o termo em discurso para operários do setor automotivo para
distinguir o que seria certo e o que seria moralmente correto fazer.
- Na
década de 1970 a feminista Toni Cale dá o significado atualizado do termo: ela
diz que seria impossível alguém ser politicamente correto e chauvinista ao
mesmo tempo e neste caso chauvinista pode ser entendido como preconceituoso.
- Na
década de 1990 é que o termo começa a ser usado nos meios políticos e na
imprensa estadunidense, inclusive Richard Bernstein em artigo para o New York
Times teria usado a expressão “cheiro de stalinismo” que pode ter contribuído
para a ligação do termo com Stálin.
- Em
discurso para estudantes em 1991, George H. Bush fala da necessidade de
combater o racismo e o machismo, mas também que o “politicamente correto”
estaria “trocando velhos preconceitos por novos”. Depois dessa fala o termo caiu
no gosto popular da direita. Hoje sabemos que a extrema direita nem se dá ao
trabalho de prestar atenção a 1ª parte da fala de Bush pai.
Cap. 8 – Obama não é um agente da KGB
- As
suspeitas de que Obama não era estadunidense surgiram no início de 2008 como um
racismo disfarçado. Ele ainda se deu ao trabalho de provar a autenticidade de
seus documentos, mas para um percentual dos estadunidenses ele de fato era
estrangeiros. Esses passaram a ser vistos como idiotas, ou usando o termo de lá
“birthers. Em entrevista no ano de 2011 o já presidenciável Donald Trump disse
que ainda tinha dúvidas da nacionalidade de Obama e pediu para que quem
pensasse como ele não fosse taxado de “birther”. Com essa fala ele fidelizou
13% de estadunidenses que ainda acreditavam nisso. Para os autores, talvez isso
seja uma lição de que devêssemos ao menos tentar argumentar com essas pessoas
que acreditam em teorias da conspiração. Tenho dúvidas se vale tamanho
sacrifício.
- A
versão de que ele seria uma agente da KGB é só mais uma versão tardia de
conspiração elaborada por Olavo de Carvalho.
Cap. 9 – Martin Luther King Jr.não era
anticomunista
- Esse
argumento surgiu para tentar capitalizar a imagem de King. Ele inclusive já fez
análises marxistas sobre o mundo do trabalho, embora nunca tenha se declarado
marxista.
Cap. 10 – Nada na psicologia nos recomenda
um sistema de castas
-
Vem do perenialismo a ideia de que as sociedades naturalmente se dividem em
castas. Esta foi reproduzida por Olavo em 2017, com o acréscimo de um suposto
embasamento psicológico como tentativa de legitimar.
- Para o pai do perenialismo René Guénon: “
[...]existe, segundo Guénon, um mundo subterrâneo, ramificado em túneis que
atravessam continentes e oceanos. Essa ligação física, por si só, já seria o
suficiente para explicar como povos distintos e religiões diversas estariam
ligados em suas tradições místicas, todas idênticas, na visão perenialista.
Nossos ancestrais teriam se servido dessa estrutura subterrânea para
estabelecer suas tradições e acumular conhecimento espiritual. Parece doideira?
Fica melhor: todos os túneis levam a um mesmo lugar: Agarttha, onde está o rei
do mundo. Isso é o básico do básico sobre Le Roi Du Monde [O rei do mundo],
publicado por Guénon em 1958.” (132).
Cap. 11 – Freud não defende o incesto
-
Olavo usou essa sua “interpretação” de Freud para acusar Haddad de querer o
mesmo durante as eleições de 2018.
- “
[...]Freud se propôs a comparar culturas humanas separadas pelo tempo e pelo
espaço. Dessa comparação, Freud retirou a constatação de que sempre há
restrições para o casamento dentro de uma mesma família. Diferentes culturas
geram diferentes códigos morais, que geram diferentes proibições. Se o incesto
é um tabu universal, então seria razoável pensar que isso se dá por causa de
algo que permeia todas as culturas. E razoável foi a conclusão de Freud: o tabu
se estabelece a partir de um potencial desejo da criança pela mãe, que é
rejeitado sumariamente pelas culturas humanas. Veja bem: não há defesa do
incesto como natural em parte alguma desse argumento. O tabu do incesto, como
Freud o descreveu, aparece pela primeira vez no texto Totem e tabu, de 1913, e
se refere à universalidade cultural da proibição do incesto.” (141).
-
“Ego, Superego e Id são as três estruturas básicas de nosso aparelho psíquico.
Cada uma dessas partes tem um papel bem definido. O Id é o espaço dominado por
nossas pulsões e instintos. Ele busca o prazer, foge da dor e faz tudo de
maneira mais ou menos automática, sem planejamento ou avaliação das
circunstâncias externas. O Superego, ao contrário, é de onde surgem nossas
inibições. Cabe a ele impedir que todas as pulsões do Id se realizem. Para
frear o Id, o Superego recorre à punição e ao sentimento de culpa. Para mediar
os conflitos entre o Id que deseja e o Superego que inibe, existe o Ego,
responsável por posicionar de maneira racional nossos comportamentos em algum
lugar entre os extremos do Id e do Superego. Idealmente, o Ego buscaria a
satisfazer as pulsões do Id apenas nos momentos adequados, evitando as
consequências negativas de nossas pulsões, ouvindo, sempre que necessário o
prudente Superego.” (142).
- Ao
usar Freud para acusar Haddad, Olavo uma das estratégias do fascismo para
chegar ao poder: sexualizar o debate eleitoral.
Cap. 12 – Ideologia de gênero, não; Estudos
de gênero, sim.
-
Nem mesmo os defensores da “ideologia de gênero” sabem definir o que ela seria.
Repetem chavões como “transformar meninos em meninas” ou “abortismo”.
-
Mais uma teoria da conspiração que chegou tarde ao Brasil.
- Um
dos gatilhos foi a Conferência do Cairo de 1994 organizada pela ONU que
garantiu os direitos reprodutivos das mulheres. Para os conservadores isso é
pura e simplesmente direito ao aborto.
- A
Igreja Católica contribuiu para a entrada desse tema em debate no Brasil. A
chegada de uma mulher à presidência em 2011, a tentativa de distribuição de
material anti-homofobia transformado em “kit gay” e a aprovação pelo STF de
união civil entre pessoas do mesmo sexo acirrou o tema.
Cap. 13 – Todo homofóbico vive em um mundo
salvo por um membro da comunidade LGBTQI +
-
Olavo defende que homossexuais não deram nenhuma contribuição importante para o
desenvolvimento da humanidade. Em seguida acusa que o chama de preconceituoso
de “desonestidade intelectual” e depois diz que sé é um direito ser homossexual
é também um direito discriminá-los.
-
Alan Turing é só um exemplo de homossexual que contribuiu de forma decisiva
para a humanidade. Em sua iniciativa de decodificar a enigma, máquina de
códigos nazista, criou o computador em 1943 e em 1950 escreveu um artigo
científico no qual previa que os computadores poderiam pensar por si próprios,
o que nós conhecemos hoje como inteligência artificial.
- Após
ser castrado quimicamente devido à sua orientação sexual, possivelmente se
matou em 1954, não antes sem perder o emprego e amigos após a revelação de sua
homossexualidade.
-
Somente em 2009 o governo britânico se desculpou pelo fato.
-
Uma transexual brasileira vive em média 35 anos.
Cap. 14 – Não há sociedade livre das drogas
-
Antes da adoção da política de descriminalização do porte e uso de drogas em
2001, Portugal tinha 1% de sua população viciada em heroína e os maiores
índices de contaminação por HIV. Com uma política de oferecimento de auxílio ao
invés de cadeia, em 2015, as infecções por HIV caíram de 104 casos para cada
milhão de habitantes para 4,2.
-
Hoje, 0,9% dos portugueses entre 15 e 64 anos usam cocaína. No Reino Unido por
exemplo, são 6%.
- Na
década de 1970, o pesquisador canadense Bruce Alexander desenvolveu um estudo
onde colocava ratos expostos a água e água com cocaína. O grupo de ratos que
vivia num ambiente com interação com outros ratos e brinquedos para se
divertir, quase não tomavam a água com cocaína enquanto que os que viviam isolados
em caixa praticamente só bebiam a água com cocaína.
Cap. 15 – O método científico é uma
conquista a ser celebrada
-
Foi o árabe Alhazen que lançou o método científico. Nascido no atual Iraque em
965, ele escreveu um livro após anos de prisão domiciliar no Egito.
-
“Foi nesse período de reclusão que Alhazen concebeu sua obra mais importante: O
livro da ótica. A obra foi reconhecida por conter ideias inéditas sobre o
comportamento da luz e, dois séculos depois da morte do autor, em 1270, ganhou
um título em latim: Opticae Thesaurus Alhazeni. Alhazen estruturou seus estudos
com um método próprio e fez questão de deixar seus futuros leitores saberem
disso. O método começava com a delimitação do problema ou questão a ser
estudada. Num segundo estágio, alguma dedução é necessária para separar o
objeto de estudo em partes: se Alhazen queria saber como se comporta um raio de
luz solar, então ele tinha de compreender que fatores poderiam interagir com o
objeto de estudo e, se necessário, buscar conhecimento em autores que tivessem
se dedicado a desvendar os mistérios da luz antes dele. Numa etapa seguinte,
todos os fatores identificados seriam separados e categorizados. Só depois é
que Alhazen poderia tirar conclusões sobre a relevância de cada fator para o resultado
do experimento. No fim, Alhazen chegaria a uma determinada hipótese sobre o
comportamento de seu raio de luz e tentaria manter uma posição analítica e
crítica em relação a ela.” (182)
- Em
1270 o livro foi traduzido para o latim.
- Na
mesma época, Roger Grosseteste criou: “O “método da resolução e composição” se
caracteriza por uma distinção entre o micro e o macro. Funciona assim: ao
observar um único raio de luz, o cientista conclui que uma lei universal está
regendo seu comportamento. Seu primeiro esforço, portanto, deve ser a
compreensão plena dessa lei universal que se revela no comportamento de um
único raio de luz. Em seguida, o cientista faz o caminho inverso e observa se
essa lei universal se aplica em outras situações particulares. As ideias de
Grosseteste fizeram a cabeça (perdão pelo trocadilho) de muita gente. Antes de
sua morte, ele acumulou muitos discípulos que o seguiriam no estudo da ótica e
também na jornada histórica de estabelecer um método científico. Um desses
discípulos foi Roger Bacon, que acrescentou ao método da resolução e
composição, proposto pelo mestre, uma divisão tripartite dos procedimentos envolvidos
na pesquisa científica: observação, hipótese e experimentação. Bacon imaginava
que a rotina da pesquisa científica poderia ser facilmente dividida dessa
forma. Primeiro, observava-se o fenômeno, depois se formulava uma hipótese que
o explicasse e em seguida a hipótese era experimentada. Importante ressaltar
que Bacon também propôs um quarto procedimento muito importante, devidamente
separado dos três anteriores: a verificação independente – todo e qualquer
resultado deveria ser validado por outro pesquisador.” (183).
Cap. 16 – Vacinas são seguras
-
“Em fevereiro de 1998, Wakefield assinava uma pesquisa que apontava vínculo
causal entre a vacina tríplice viral, inflamação intestinal e autismo. Começava
assim, com a publicação dessa pesquisa na revista Lancet, uma desconfiança que
dura até hoje. A vacina tríplice viral é a principal ferramenta profilática
disponível contra o sarampo, a caxumba e a rubéola. Normalmente, as crianças
recebem duas doses: uma entre 9 e 15 meses de idade e outra entre 15 meses e 6
anos. Duas doses são o suficiente para que 97% dessas crianças desenvolvam
imunidade contra o sarampo.” (195).
-
Investigações posteriores mostraram que o médico havia manipulado os dados e em
2010 ele perdeu sua licença para clinicar.
-
Ele se defendeu afirmando o quê? Ser vítima de uma conspiração da indústria farmacêutica.
Chegou a haver manifestações no Reino Unido ao seu favor.
-
Nos EUA, seu “estudo” foi acrescido com o fato de que o componente timerosal
seria o responsável pelos “danos”. Este componente está presente em outras
vacinas, logo, qualquer vacina seria perigosa.
-
Resultado: doenças como o sarampo estão tendo aumento em todo mundo. O Brasil,
mesmo, onde a doença chegou a ser considerada erradicada ela voltou. E não só
isso: todas as vacinas, com exceção da BCG estão caindo.
Cap. 17 – A Terra não é plana, e mais: ela
gira em torno do Sol
- Apesar
de não afirmar diretamente, Aristarco de Samos no século IV a.C. lançou a ideia
do heliocentrismo já que em sua lógica, os planetas menores orbitariam os
maiores.
-
Aristóteles, com a simples observação do Sol lançou as bases do geocentrismo
que foi reforçado por Ptolomeu de Alexandria e convenientemente aceito pela
Igreja Católica por 1400 anos.
Cap. 18 – A humanidade não pode queimar
petróleo indefinidamente
- O
petróleo, carvão mineral e gás natural são formados da composição de seres
vivos e plantas em certas temperaturas e pressão ao longo de milhões de anos,
ou seja, tem origem orgânica.
-
“Em 1848, um escocês chamado James Young desenvolveu um processo de destilação
que transformava o petróleo num líquido mais fino, usado inicialmente em
candeeiros. Do mesmo processo químico, era obtida também uma substância viscosa
muito útil para lubrificar as engrenagens de todas as máquinas que operavam a
já sacramentada Revolução Industrial.” (210)
- Já
teríamos gastado metade do petróleo existente. Não seria a hora de migrar para
outras fontes? Lógico. Para alguém que não acredita nas origens abióticas do
petróleo.
-
Existem alguns estudos sobre abiogênese que se baseiam por exemplo no fato de
metano já ter sido encontrado em planetas onde não há registro de vida. No
entanto, a maioria dos defensores (da ex-União Soviética, engraçado Olavo usar
uma teoria nascida lá não?) afirma que mesmo que ela seja real, 100% do nosso
petróleo não teria origem abiótica.
Cap. 19 – Não há razão para duvidar das
mudanças climáticas
- É
comum grandes empresas investirem na deslegitimação de conhecimento científico
para defenderem os seus interesses.
-
“Fumantes passivos têm um risco 30% maior de contrair câncer de pulmão e 24%
maior de infarto do coração do que os não fumantes de acordo com dados do
Instituto Nacional do Câncer. De acordo com dados da Organização Mundial de
Saúde, aproximadamente 2 bilhões de pessoas são vítimas do fumo passivo no
mundo, sendo que, dessas, 700 milhões são crianças, que sofrem com bronquites,
pneumonias e infecções de ouvido. No Brasil, as crianças são 40% das vítimas do
fumo passivo.” (219)
-
Entre 2000 e 2016, indústrias interessadas em continuar a poluir investiram
mais de 2 bilhões de dólares para travar mudanças na legislação sobre mudanças
climáticas.
- “A
ciência começou a especular sobre as mudanças climáticas já no século XIX,
quando o mundo já contemplava os efeitos da revolução industrial. Ou seja: no
mesmo século em que colocamos o primeiro motor à combustão para funcionar,
também cogitamos a hipótese de que o CO2 emitido por ele pudesse ter
consequências graves. O mérito desse pioneirismo vai para o britânico John
Tyndall. Foi ele que sugeriu, em 1860, que o CO2 pudesse ter um papel
importante para o clima, absorvendo radiação infravermelha e alterando a
temperatura do planeta. A hipótese de Tyndall permaneceu em dúvida porque os
instrumentos disponíveis para seus experimentos ainda eram um tanto primitivos
e suas medições geravam uma natural desconfiança.” (220)
- Documento
elaborado pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (ou IPCC em
inglês) aponta que: “[...] o mundo aqueceu em média 0,85 °C entre 1880 e 2012.
A razão do aquecimento é, com “elevadíssimo grau de certeza”, a emissão de
gases estufa pelas atividades humanas. Recomendando aos governos “medidas
preventivas urgentes”, o relatório se esforça para explicar todos os
desdobramentos da elevação das temperaturas globais, que poderiam ter um
aumento médio de 4,8 °C até 2100 se as emissões continuassem dentro das
tendências atuais.” (221)
- Os
efeitos claro, seriam a morte de espécies dos oceanos, aumento do nível do mar
inviabilizando a existência de várias cidades, diminuição de florestas, fome,
caos...
- O
“climategate” foi um vazamento seletivo de dados sobre paleoclimatologia que
iriam para um relatório do IPCC em 2009. Além de seletivo, os dados foram
distorcidos para dar a impressão de que aquecimento global seria algo
inexistente. Foi nisso que Olavo se baseou.
Cap. 20 – A escravidão existiu e suas
consequências são sentidas no presente
- “A
tentativa de negar a escravidão do passado é motivada pela tentativa de negar
seus efeitos do presente, invalidando todas as políticas afirmativas que nascem
da percepção de que nossa herança escravagista continua sendo um dos principais
elementos estruturantes das relações sociais brasileiras. Tal herança pode ser
notada nas mais variadas áreas. Nem a arquitetura fica de fora. Até a última
década do século XX, ainda se construíam apartamentos com os chamados “quartos
de empregada”, um simulacro de senzala adaptado ao ambiente urbano e
verticalizado.” (p. 228-229)
- “O
fato é que o Brasil ainda nem estava no mapa do mundo quando, em 1482, o rei de
Portugal, Dom João II, mandou que se construísse o Castelo de São Jorge da
Mina, onde hoje fica Gana. Tratava-se de uma fortaleza com a qual os europeus
defenderiam seus interesses na região. Que interesses eram esses? O nome que
aquela região do mundo tinha no século XV ajuda a entender: Costa do Ouro.
Nenhuma outra nação europeia, até então, tinha estabelecido qualquer tipo de entreposto
comercial ou militar em território africano. Com o tempo, a escravidão passou a
ser o eixo comercial do Castelo de São Jorge da Mina. Consta que 30 mil
escravos tenham sido embarcados e levados dali para o Brasil, sempre em navios
portugueses. O castelo continua de pé, como um monumento que impossibilita que
se negue ou revise esse passado, adotando uma versão mais confortável, com a
qual os brancos do presente consigam lidar com mais facilidade.” (p. 229)
-
“Nos três séculos seguintes, navios portugueses partiam de mais de 90 portos
africanos. Nesse período, foram feitas mais de 11 mil viagens, e cerca de 9 mil
tiveram o Brasil como destino.” (p. 230)
- “Portugal
não apenas foi o primeiro país a cruzar o Atlântico levando escravos
acorrentados – durante algumas décadas, foi o único. O pioneirismo português se
fez notar em terras brasileiras. Cerca de 46% de todos que foram levados à
força da África para as Américas tinham como destino o Brasil. Isso criou na
sociedade brasileira uma dependência do modelo escravagista. Por aqui, a
propriedade escrava foi amplamente difundida, indo muito além do trabalho
rural. Nas cidades, era fácil encontrar quem tivesse um ou dois escravos. Quase
5 milhões de africanos foram trazidos como escravos para o Brasil. Não é um
recorde do qual se possa ter qualquer tipo de orgulho, mas o fato é que nenhum
outro país nos supera neste quesito.” (p. 230).
Cap. 21 – O Foro de São Paulo jamais foi
uma organização secreta
-
Mais uma mentira descarada de Olavo de Carvalho para colocá-lo como um
semi-deus que é capaz de descobrir os mistérios do mundo. Além de transformar
uma ironia (o caso URSAL) como realidade.
- É
verdade que as FARC já chegaram a fazer parte do Foro, mas foram expulsas, a
pedido do PT inclusive.
- No
Brasil fazem parte dele o PT, PDT, PSB, PCdoB, PCB e o falecido PPL.
Cap. 22 – A Lei Rouanet não é uma mamata
- A
Lei Rouanet foi criada para tentar incentivar a produção cultural por meio da
iniciativa privada. O dinheiro investido é de empresas e pessoas (abatimento de
6% de IR de pessoas jurídicas e 4% de físicas) que poderia ser do estado.
- A
Lei Rouanet deveria ser criticada sim, mas não por financiar “artistas de
esquerda”, mas por ser excludente já que as empresas é que escolhem o que elas
vão patrocinar, preferindo na maioria das vezes artistas consagrados.
Cap. 23 – Universidades públicas produzem
pesquisa, muita pesquisa
-
“Em 2016, exercendo essa legitimidade, a Capes contratou a Clarivate Analytics,
uma empresa especializada na coleta de dados sobre pesquisas e patentes, para
entender como andava a ciência brasileira. Resultado: das 20 universidades que
mais produziram pesquisas entre os anos 2011 e 2016, 15 eram federais, 5 eram
estaduais. Todas eram públicas.” (251).
-
Reinaldo Azevedo, hoje um antibolsonarista, foi um dos que ajudou a alimentar
essa falácia em seus artigos na Veja, com destaque para um de 2008 onde
escreveu que tinham “mais comunistas nas universidades brasileiras do que na de
Pequim”.
-
EC/95 mais os constantes ataques à ciência dão resultados: “[...] em 2015, o Brasil
tinha 10,7 bilhões de reais para investir em ciência. Em 2019, a fatia do
orçamento destinado à pesquisa científica caiu para 3,7 bilhões. (253).
- O
ataque é contra a ciência em geral, porém mais centrado nas humanas, capazes de
formarem cidadãos críticos o suficiente para não acreditarem em teorias da
conspiração e no fascismo como solução.
-
“Não por acaso, 34 das 100 companhias que encabeçam o Financial Times Stock
Exchange, um índice que reúne os melhores desempenhos do mercado financeiro,
têm representantes das humanidades atuando como CEOs. Nos Estados Unidos, uma
pesquisa realizada em 2012 constatou que 60% das pessoas encarregadas de
chefiar departamentos de engenharia de produção tinham formação em humanas.”
(255).
-
Luciano Hang vai além. Para ele as universidades públicas “destruíram o país”.
Isso pode inclusive abrir caminho para atos de violência contra universitários.
Cap. 24 – Paulo Freire não doutrinou
ninguém
-
Curiosamente, os críticos de Paulo Freire acusam seu método de doutrinar e não
alfabetizar ninguém. Ao impedir alguém de julgar por conta própria, os que
acusam Paulo Freire já confessam a sua própria tentativa de doutrinar o
público. Além disso, se esquecem que Paulo Freire teve que se exilar logo após
o golpe que os militares desmontaram o seu plano de alfabetização, portanto é
óbvio que não “daria certo”.
Depois de tudo, você
-
“Não resta dúvidas: um problema desse momento histórico é o uso radical da
mentira como ferramenta política. Deram a isso um nome muito conveniente:
pós-verdade. Outro problema que caracteriza nossos tempos é a tendência das
mídias sociais em nos isolar em bolhas que nos protegem de qualquer
divergência. Separadamente, cada um desses dois problemas poderia ser vencido
com facilidade, mas juntos eles são imbatíveis: primeiro, o idiota é capturado
pela mentira e depois é aprisionado com ela dentro da bolha. Como a bolha é uma
prisão confortável, o idiota não reclama. Pelo contrário: percebendo que suas convicções
(ainda que embasadas naquela mentira inicial) são reforçadas, ele as
radicaliza. Isso eleva a mentira a um novo patamar: o idiota cria para si uma
ficção que inevitavelmente vai afetar a realidade – a dele e a dos outros.”
(268)
- O
uso político da mentira sempre existiu, o problema é que com as redes sociais e
a “bolha” ela alcança níveis inimagináveis.
-
Outro problema é que as redes sociais com seus likes, curtidas, etc, alimentam
o ego das pessoas, justamente numa sociedade altamente competitiva. Sobra
assim, pouco espaço para uma retratação ou ir contra a maré, por exemplo.
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